quinta-feira, 30 de abril de 2009

Tabagismo, as consequências do prazer! (Parte II)

Dr. Hilton Marcos Villas Boas - PsiquiatraContinuando com a nossa conversa da última semana, onde o tópico final abordado foi o fumante passivo, hoje continuaremos a enfocar os efeitos tóxicos que a nicotina pode causar ao cérebro, ao organismo como um todo, a gestante e a criança.
Em relação aos efeitos tóxicos da nicotina no SNC (Sistema Nervoso Central), primeiramente temos que levar em consideração que a nicotina é considerada como uma espécie de estimulante muito suave, portanto, pode provocar no indivíduo sintomas psicológicos e físicos, significativos e responsáveis pelo surgimento da DEPENDÊNCIA.
O uso do cigarro pode levar o indivíduo, em um primeiro momento, a ter o que podemos chamar de “sintomas agradáveis”, como: maior clareza de pensamentos, maior atenção e capacidade de concentração, assim como o aumento da memória. Alem desses “sintomas agradáveis”, o poder que a nicotina tem de provocar uma diminuição do tônus da musculatura, da à falsa impressão ao fumante que o uso do tabaco diminui a irritabilidade, a agressividade e relaxa, daí aquela velha máxima do fumante, que não cansamos de ouvir: “vou fumar um cigarro para relaxar”.
Ainda levando em consideração as ações da nicotina, é muito comum escutarmos de quem fumava e deixou, que passou a ter mais apetite e aumentou de peso, tal afirmação não é inverídica, isto porque em menor ou maior grau, variando de pessoa para pessoa, a nicotina causa uma diminuição do apetite. Esses “sintomas agradáveis”, provocados pelo uso do cigarro, em uma fase inicial, é que vão contribuir sensivelmente para a instalação do processo de DEPENDÊNCIA DO TABACO, o qual vai ocorrer a partir do momento em que o fumante atingir o que denominamos de TOLERÂNCIA e SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA.
O que vem a ser TOLERÂNCIA? A nicotina é uma substância que quando usada por longo período, pode provocar o mesmo efeito que várias outras drogas provocam o desenvolvimento do que denominamos de TOLERÂNCIA. Quando o fumante atinge esse estágio, significa que o mesmo terá cada vez mais que consumir um número maior de cigarros, em um determinado período de tempo, para que possa vir a ter as mesmas sensações dos efeitos produzidos anteriormente, por um número menor de cigarros consumidos, no mesmo período de tempo.

O que significa SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA? A grande maioria dos fumantes, principalmente aqueles que já são usuários do tabaco há mais tempo, quando tentam suspender subitamente o consumo do mesmo, podem sentir sintomas como: fissura (desejo irresistível de fumar), agitação, irritabilidade, dificuldade de concentração, tontura, dor de cabeça, insônia e sudorese. O conjunto desses sintomas é que denominamos de SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA, a qual normalmente persiste em torno de duas semanas.
Quanto ao organismo como um todo, o uso do tabaco, passada a fase inicial, denominada de “sintomas agradáveis”, as conseqüências do uso do mesmo, aos mais diferentes sistemas do corpo humano, são muito desastrosas. Quando o indivíduo usa o cigarro, a nicotina é rapidamente distribuída por todos os tecidos do organismo, portanto, o seu uso de maneira continua é um fator irritante aos tecidos, provocando o surgimento de doenças como: doenças isquêmicas do coração (como angina do peito ou infarto do miocárdio), taquicardia, HAS (hipertensão arterial sistêmica), isquemias ou hemorragias cerebrais, doença pulmonar obstrutiva crônica, dificuldades digestivas, constipação intestinal, e cânceres de pulmão, boca, laringe, esôfago e bexiga, são as doenças que podem levar à morte tanto de homens como de mulheres.
Quando durante a gestação a mãe fuma, ou é fumante passiva, o feto também recebe todas as substâncias tóxicas do cigarro fumado pela mãe, através da placenta e cordão umbilical, “é como se o feto também estivesse fumando”. Essas gestantes têm uma maior probabilidade de abortos espontâneos, em relação a quem não fuma ou é fumante passiva. Quanto ao feto exposto à ação da nicotina, o mesmo pode sofrer: aumento dos batimentos cardíacos, comprometimento do seu desenvolvimento, tanto em termos de estatura como de peso (bebês com menor peso e estatura) e alterações neurológicas de relevância. Com relação à amamentação, as substâncias tóxicas do cigarro também chegam até a criança, porque elas vão estar agregadas ao leite materno.
Outro problema grave, em relação ao tema, são as crianças que fazem uso do tabaco. Pelas estatísticas brasileiras é comum experimentar o cigarro pela primeira vez, normalmente, da metade para o final do ensino fundamental, o que vai levar muitas dessas crianças, ao atingirem o ensino médio, a já estarem fazendo o uso freqüente do cigarro. Dados de estudos estatísticos revelam que as crianças que fumam: faltam mais à escola do que as que não fumam, tem mais propensão a doenças pulmonares, quanto mais cedo começam a fumar mais facilmente adquirem o hábito e possuem maior propensão para desenvolver doenças graves como as já descritas acima.
Outros dados relevantes e preocupantes comprovam que as meninas fumam mais que meninos.
Alguns dos fatores que podem ser considerados propícios ao hábito de fumar, é a aprovação por parte de adultos (os quais a princípio tem consciência dos problemas causados por tal ato), e a publicidade sobre cigarros, que mesmo com todas as medidas tomadas pelo nosso governo, ainda continuam muito presentes em nossa sociedade. Diante do hábito de fumar, e das constatações que colocamos para vocês caros leitores, quem quer parar de fumar, o que fazer? Bem, primeiro a pessoa tem que conscientizar-se que deseja parar de fumar, dado este primeiro passo a mesma deve procurar orientação de um profissional habilitado, para poder conduzir o seu tratamento, visto que nem sempre o problema é só o taba-gismo, o que pode necessitar uma intervenção interdisciplinar. Mas, o bom dessa história, é que hoje nos já dispomos de tratamentos que podem elevar a chance do indivíduo parar de fumar em até 40%. Portanto não perca tempo, até a próxima e um bom final de semana a todos.

domingo, 26 de abril de 2009

Tabagismo, as consequências do prazer! (Parte I)

Dr. Hilton Marcos Vilas Boas - Psiquiatra

O advento de um novo ano, normalmente serve para muitos de nós, como um marco para um balanço do que vivemos no último ano, e do que projetamos viver para o próximo. Em muitos casos, nos não atingimos as marcas estipuladas para cumprir durante o ano que passou, e agora é a oportunidade, de ao iniciar o ano, mantermos o foco para cumprir com os objetivos importantes não alcançados no ano findo, bem como propor outros que sejam relevantes para a nossa vida.

Um dos objetivos, que mais ouço, dos pacientes no consultório é o desejo de para de fumar, pois uma grande parte dos mesmos sabe o quanto fumar prejudica a saúde, bem como também acham que e fácil deixar de fumar, e podem parar a qualquer hora que desejarem. No entanto, a história não é bem assim, poucos são aqueles que na verdade tem a consciência real, dos problemas causados pelo fumo, não só a eles como a outros, como também o fato de que parar de fumar não é nada simples. Daí o porquê, resolvemos falar um pouco sobre o tabaco, na perspectiva de que possamos ajudar aqueles que têm esse objetivo para 2009.

O tabaco recebe o nome científico de Nicotiana Tabacum, e vamos encontrar na história, que o relato de uso do mesmo remonta a mais ou menos 1000 anos antes de Cristo (aC), nas populações indígenas habitantes do continente Americano, na região da América Central. Na Europa, os relatos históricos mostram que o tabaco, foi introduzido a partir do século XVI, a partir da França, pelo diplomata Jean Nicot, tendo o seu uso rapidamente se difundido no continente, ultrapassando seus limites geográficos, alcançando a Ásia e África, no século seguinte.

No século XIX o charuto começa a ser usado em terras da Espanha, como forma de ostentação, e ganha rapidamente difusão em todo o velho continente, atravessando suas fronteiras no século XX, e ganhando o mundo, principalmmente após a primeira guerra mundial.

Na história do aumento acentuado dos usuários do tabaco, um marco importante é a chegada de uma publicidade extremamente bem elaborada, de forma meticulosa, para atrair novos consumidores, o que foi atingido com pleno sucesso em meados do século passado.

O avanço do uso do tabaco tomou conta do mundo, com um marketing muito criativo, ostentativo e agressivo, ao ponto do contra senso das indústrias do ramo chegar a patrocinar determinadas modalidades de esporte, até algumas décadas passadas.

Somente por volta dos anos sessenta, surgem por intermédio da comunidade científica mundial, relatórios que faziam à correlação de doenças provocadas pelo uso do tabaco. A partir dessa época, estudos desenvolvidos em diversos centros científicos, do mais alto reconhecimento mundial, passam a comprovar diferentes problemas de saúde que acometem tanto o fumante, como as pessoas que estão expostas ao produto do ato de fumar, a fumaça.

No momento atual o tabaco é cultivado mundialmente, sendo responsável por uma atividade econômica que envolve milhões e milhões de dólares, além de empregar inúmeras pessoas, estando na contramão o inúmero exercito de indivíduos portadores de patologias devido ao uso do mesmo.

Apesar de toda a restrição ao uso do tabaco seja, pela limitação da publicidade, advertências ao risco à saúde que os consumidores estão expostos e da proibição do seu uso em vários ambientes, ainda assim o tabaco, que é considerado uma droga (droga lícita = que pode ser vendida no comercio, obedecendo algumas restrições, assim como a bebida alcoólica), e uma das mais consumidas no mundo.

Os efeitos danosos à saúde do ato de fumar, chamados tóxicos, ocorrem devido na queima de um cigarro ser liberadas mais de 4000 substâncias na forma de gases e partículas. Algumas têm propriedades irritativas e mais de 60 são conhecidas como carcinogênicas (que podem provocar câncer) em humanos e animais. Os componentes gasosos da fumaça são o monóxido de carbono (principal constituinte), o dióxido de carbono, a amônia, o formaldeído, a acroleína, a dimetilnitrosamina e o hidróxido de cianeto. A porção particulada da fumaça é constituída de nicotina, alcatrão, benzeno e benzopireno.

Os efeitos tóxicos do ato de fumar, vão se acentuando cada vez mais, de acordo com a maior freqüência e intensidade do usuário de tabaco, aumentando assim a possibilidade do surgimento de várias doenças, como por exemplo: pneumonia, alguns tipos de câncer, bronquite crônica e doença das coronárias. Não bastasse tais doenças, o uso do tabaco, comprovadamente eleva o risco de maior incidência, para a população fumante, do acometimento de doenças, como: angina, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, em relação à população não fumante.

O pior dessa história, é que quando alguém fuma os agentes poluentes do cigarro, não prejudicam só a ele, pois a fumaça dispersada no ar, atinge o ambiente, e conseqüentemente quem esta por perto. Assim surge a figura do “Fumante Passivo”, indivíduo que não fuma, mas está exposto à fumaça do cigarro fumado por parentes, amigos ou colegas de trabalho.

O cigarro é o maior poluidor ambiental doméstico, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Como as pessoas passam em média 80% de seu tempo, em locais fechados, há grande risco de exposição excessiva as toxinas eliminadas pela fumaça do cigarro.

As pessoas com maior risco de serem “Fumantes Passivas”, e sofrerem as conseqüências dessa situação, são aquelas que moram com fumantes ou as que trabalham em ambientes onde é permitido fumar. Para termos uma noção exata da dimensão, de quanto o “Fumante Passivo” pode ser prejudicado, analisem esses dados: - “... Os filhos de pais que são fumantes, vão apresentarem com o passar do tempo, uma incidência três vezes maior de serem acometidos por infecções respiratórias, tipo sinusite, bronquite e pneumonia, em relação aos filhos de pais que não são fumantes...” – “... Aumento da taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares entre 25 a 35%...”. Até a próxima, um 2009 FENOMENAL a todos, com a segunda parte desse tema, um 2009 FENOMENAL a todos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Riscos do fumo passivo independem da distância, diz médico

FABIANA LEAL

Os prejuízos causados pelo fumo passivo não são medidos pela distância entre o não-fumante e o fumante, mas pelo local em que se encontram, diz o médico psiquiatra Ronaldo Laranjeira, PhD em dependência Química na Inglaterra e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad).

"Não é uma questão de distância, mas de ambiente. A fumaça se transforma em gases e fica invisível. É quem nem xixi numa piscina. A pessoa que estiver nela vai ter contato com o lado tóxico, seja em maior ou menor proporção", afirmou.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o fumo passivo é a terceira causa evitável de mortes no mundo. Estudo realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que pelo menos sete indivíduos não-fumantes expostos involuntariamente à fumaça do tabaco morrem por dia no Brasil.

Doenças cardiovasculares
O médico disse que as implicações que o fumo passivo levam às pessoas são comprovadas por dezenas de estudos. Segundo ele, a exposição ao fumo passivo, quer seja por crianças cujos pais são fumantes ou por empregados expostos a fumaças em bares, restaurantes ou escritórios, tem um custo para a saúde. De acordo com o médico, o principal problema gerado pelo fumo passivo são as doenças cardiovasculares, e em segundo lugar, o câncer - não só de pulmão, mas de bexiga, estômago e mama.

Segundo Laranjeira, mulheres de fumantes têm 30% mais risco de desenvolver algum tipo de câncer, conforme dados de pesquisas internacionais. E os filhos de pais fumantes têm 50% mais chances de adquirir uma inflamação no ouvido e 60%, de ter asma.

Segundo o psiquiatra, na Inglaterra, não se pode mais fumar porque "as evidências são tão fortes no sentido de que a principal fonte de poluição nos ambientes fechados são as fumaças".

Impacto para bares
Para o médico, os bares e restaurantes não terão impacto econômico com essa proibição. "Nenhum pub inglês fechou pela proibição do cigarro. Mesmo em Nova York, nenhum bar chegou a fechar. Essa é uma briga financiada pela indústria do fumo".

Em 1995, Laranjeira fez um estudo com 100 garçons nos restaurantes do município de São Paulo. O objetivo era medir os níveis de monóxido de carbono (CO), um dos componentes da fumaça, antes e depois do seu expediente de trabalho. Todos os restaurantes participantes não possuíam áreas reservadas para fumantes. Os resultados desse estudo mostraram que após um período de exposição de nove horas com a fumaça do cigarro em ambiente de trabalho, os níveis médios de CO expirado dobrou entre os garçons não-fumantes.

Deputados aprovam projeto de lei antifumo em SP

O Plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou, nesta noite, por 69 votos a 18, o Projeto de Lei 577/2008, de autoria do governador José Serra, que proíbe o fumo em locais fechados no Estado, como bares e restaurantes. O projeto seguirá para a sanção do governador.

A Alesp aprovou três emendas ao projeto. Um dos destaques garante que a lei só entre em vigor 90 dias após a sanção, que deve ocorrer em 15 dias. As outras emendas tratam sobre a divulgação da legislação e quanto ao auxílio às pessoas que desejam parar de fumar. "Vai ser importante para a saúde. É um projeto ousado e corajoso, e foi muito discutido com a população", afirmou o presidente da Alesp, Barros Munhoz (PSDB).

Onde o fumo será proibido
Diferente da Lei Federal 9.294/1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de tabaco, a lei paulista proíbe o fumo em todos espaços coletivos fechados e a existência de fumódromos. O texto também prevê punições ao proprietário de estabelecimento que não coibir o fumo. As penalidades ainda serão definidas.

A lei autoriza os responsáveis por bares e restaurantes a acionar a polícia para retirar fumantes dos estabelecimentos em casos de resistência. O dono do bar ou restaurante ficará responsável por afixar avisos sobre a proibição do fumo no estabelecimento.

O cigarro fica restrito à casa do fumante, às vias públicas e aos espaços ao ar livre. A lista de lugares permitidos inclui instituições de saúde em que os pacientes estejam autorizados a fumar pelo médico responsável, as tabacarias e os locais de cultos religiosos em que o fumo faça parte do ritual.

Divergência
Os líderes das bancadas do PT, PSDB e Psol na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) divergiram sobre o projeto antifumo. Para o petista Rui Falcão, "todos querem combater os malefícios do cigarro, a diferença é a maneira". Segundo ele, o partido apóia a lei, mas gostaria de ter tido aprovadas as emendas que sugeriu ao projeto.

A principal delas determinava que fossem disponibilizados bares somente para fumantes e outros somente para não-fumantes. Falcão disse ainda que espera que as pessoas cobrem medidas efetivas do governo depois que a lei entrar em vigor. "Espero que o governo também seja responsabilizado pela queda de atividade econômica que esse projeto pode acarretar", declarou.

O líder do PSDB, Samuel Moreira, disse que o projeto mexe com a vida de toda a sociedade e trouxe bons debates à Assembléia paulista. "Esse projeto tem o objetivo de melhorar os indicadores de saúde e tornar os ambientes melhores. Não se trata de proibir o cigarro, mas sim de garantir os direitos daqueles que não fumam", disse Moreira. Segundo ele, as pessoas não deixarão de freqüentar os locais porque estarão proibidas de fumar e não haverá redução da atividade econômica. "Nos próximos anos, essa medida vai reduzir o número de fumantes de uma forma natural, sem autoritarismo", afirmou.

O deputado Raul Marcelo, líder do Psol, concordou com a necessidade de emendas e salientou a importância do projeto para o interesse coletivo. Marcelo aproveitou para criticar a postura do PSDB que, segundo ele, auxiliou na implantação das grandes fabricantes de cigarros no Sul do País e, agora, se posicionou a favor da aprovação da lei antifumo no Estado.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o fumo passivo é a terceira causa evitável de mortes no mundo. Estudo realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que pelo menos sete indivíduos não-fumantes expostos involuntariamente à fumaça do tabaco morrem por dia no Brasil.

Fonte: Terra

São Paulo tem fila para tratamento antifumo

Antes de lei ser aprovada, 550 ainda aguardavam atendimento

Emílio Sant´Anna, Vitor Hugo Brandalise e Edison Veiga



SÃO PAULO - Antes mesmo de a Assembleia Legislativa aprovar um projeto que bane o fumo de lugares fechados, a espera por tratamento - para quem procura se livrar do tabagismo - está entre seis meses e um ano. Duas emendas à lei antifumo paulista preveem a realização de campanhas de conscientização e a obrigação do Estado em fornecer os medicamentos. O problema é que 550 pessoas já aguardam nos dois principais centros de tratamento da capital e faltam medicamentos, fornecidos pelo governo federal.

 

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, 250 pessoas esperam a abertura de grupos terapêuticos no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod). No Instituto do Coração (Incor), ligado ao Hospital das Clínicas de São Paulo, outras 300 esperam o mesmo tratamento.

 

Os números demonstram ineficiência na rede de atendimento ao fumante do Estado. No ano passado, de acordo com o Instituto do Câncer (Inca), dos 88 serviços capacitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para oferecer tratamento completo a quem deseja parar de fumar, apenas 53 ofereceram algum atendimento.

 

De 1.388 pacientes avaliados nas unidades básicas de saúde, apenas 952 passaram pela primeira sessão. A secretaria afirma que o acesso aos serviços cresceu 13,6% entre 2006 e 2007, mas não informa quantos pacientes se tratam hoje nem qual é o tamanho da demanda total reprimida. Cada paciente custa, para o governo do Estado, entre R$ 400 e R$ 900.

 

A falta de medicamentos é outro problema crônico entre as instituições, segundo a diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor, Jaqueline Issa. No último trimestre de 2008, nenhum medicamento para tratamento de fumantes foi enviado para o Incor pelo Ministério da Saúde. Em um ano, quando 600 pacientes poderiam ser atendidos, cerca de 400 são acompanhados.

 

Quando vêm, os remédios não suprem as necessidades: entre julho e setembro de 2008, o governo federal enviou ao Incor 600 comprimidos de Bupropiona (droga que complementa adesivos cutâneos), suficientes para o tratamento de 3 pacientes, num universo de cerca de 90. "Diminuímos as vagas para não interromper o tratamento, o que seria fatal a quem tenta largar o vício", explica Jaqueline. "O sistema de distribuição do Ministério é ineficiente. Tem de melhorar, para acompanhar a nova lei."

 

Para o secretário de Estado de Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, ainda não é possível saber se a demanda crescerá a ponto de precisar ampliar a rede de atendimento. "A entrada em vigor da lei não vai, necessariamente, fazer com que as pessoas deixem de fumar."

 

Essa não é a expectativa de Paula Johns, diretora da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT). Além da aprovação da lei estadual, o aumento no preço do cigarro contribui para que cada vez mais pessoas procurem tratamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a cada aumento de 10% no valor dos maços, há decréscimo de 8% no número de fumantes nos países em desenvolvimento. "A demanda vai crescer e será ainda maior do que a oferta do Estado", afirma Paula.

 

Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, estudos demonstram que 70% dos fumantes manifestam desejo de largar o vício. A nova legislação, de autoria do governador José Serra, deixa como opção para os fumantes as residências, a rua e as tabacarias. Serra está em viagem, nos EUA, e deverá sancionar a lei em 15 dias.